Final do Julgamento



Livre ele fez milagres e proferiu discursos com incrível sabedoria, arrebatando multidões.Preso, ele produziu olhares, pequenas frases e gestos quase imperceptíveis, que nos deixam perplexos.

Num ambiente onde só havia espaço para sentir medo e o desespero, Ele exalta tranqüilidade. Numa esfera onde só era possível reagir irracionalmente, Ele expressou a mais bela afetividade e capacidade de pensar.

Agora ele foi julgado e está mutilado. Em menos de doze horas seus inimigos destruíram seu corpo. O filho do Homem não tinha mais força para caminhar. Fizeram com ele o que não fizeram com ninguém que enfrentaria o suplício da cruz.

O mais amável e poderoso dos homens estava com dezenas de pontos hemorrágicos sobre a cabeça. Sua face estava mutilada e inchada. Os olhos deveriam estar quase invisíveis pelos traumas, pelo edema das pálpebras. Os músculos do abdômen estavam feridos. Não conseguia andar direito. A musculatura das pernas estava lesada. A pele das costas estava aberta pelos açoites. Seu corpo estava desidratado.

Jesus ainda diante de Pilatos e o vê lavar as suas mãos. Assiste-lhe fazer a vontade dos Judeus e entregar-lhe para ser crucificado. O MESTRE DA VIDA estava profundamente ferido e sem energia para carregar a cruz.

Lá fora uma multidão de homens e mulheres impassíveis queria notícias. Desejavam saber o veredicto romano. De repente um homem quase irreconhecível, carregando com enorme dificuldade uma trave de madeira, aparece.

A multidão ficou chocada. Parecia uma miragem. Não acreditavam na cena. O mais manso dos homens estava profundamente ferido. O homem que fez milagres estarrecedores foi desfigurado. O único homem que discursou ser a fonte da vida eterna estava morrendo. O poeta do amor estava sangrando. 

A cena era impressionante. A angústia tomou conta de milhares de homens e mulheres. Um cordão humano foi feito para Jesus passar. Fico imaginando o que não se passava nas mentes daquelas pessoas sofridas que foram cativadas por ele e ganharam um novo sentido de vida.

Fico pensando como o sonho delas se converteu em um grande pesadelo. Perturbadas, talvez cada uma delas fizesse inúmeras perguntas para si mesmas: - será que tudo o que Ele falou não era real? – será que a vida eterna, sobre a qual Ele tanto discursou inexiste? – será que nunca mais encontraremos as pessoas que amamos e fecharam os olhos para a existência? –se ele é o filho de Deus, onde está o seu poder? 

O povo estava estarrecido. Ao contemplar o mestre do amor cambaleante e sem energia para carregar a cruz, não suportaram. Todos começaram a chorar.

Lucas descreve o desespero incontido daquelas pessoas. A esperança dos que vieram de tão longe para vê-lo se evaporou como uma gota d’água do calor do meio-dia. 

O sangue escorria pela cabeça de Jesus e as lágrimas rolavam pelo rosto dos que o amavam. O sangue e as lágrimas se misturaram num dos mais emocionantes cenários da história.

Aparentemente ele era o mais fracassado dos homens, mas, apesar de desfigurado, conseguia ainda causar um grande impacto nas pessoas. Os homens do Sinédrio e da política romana não imaginavam que ele fosse tão querido.

Estava tão abatido que não tinha forças para carregar aquilo que ele mais queria: a cruz. Ao carregá-la, caia, freqüentemente, por isso precisou ser ajudado. Seu corpo todo doía. Seus músculos traumatizados mal conseguiam se movimentar. Não havia, portanto, condições físicas e psíquicas para que se preocupasse com mais nada, a não ser consigo mesmo. Entretanto, ao observar as lágrimas dos que o amavam, não suportou. Seu coração se derreteu.

Parou subitamente. Ergueu seus olhos! Conseguiu reunir forças para dizer palavras sublimes para aliviar a inconsolável multidão.

LUCAS 23:28: FILHAS DE JERUSALÉM, NÃO CHOREI POR MIM, CHORAI, ANTES, POR VÓS MESMOS E POR VOSSOS FILHOS.

           (Texto extraído do Livro O Mestre da Vida)

                               Autor Augusto Cury